Não é como se fosse possível passar uma borracha por cima de
tudo, ignorar e fingir que nunca aconteceu. Não é como se um carro tivesse me
atropelado, me fizesse passar meses em coma e acordar com amnésia depois. Não posso
simplesmente rasgar partes do livro da minha vida só para retirar da história
aquele capítulo que tanto me doeu, pois sem ele, todo o resto perderia o
sentido. Não é comum pra mim, esquecer das pessoas que já me foram tão
importantes. Não tenho esse costume, ou melhor dizendo, esse poder. E querendo
ou não, ainda me dói, me arde aqui dentro ao pensar que pra você é tudo tão
fácil, sem drama, sem culpa, sem saudade. Sem aquela vontade maluquinha de
voltar no tempo, não para mudar alguma coisa, mas sim, para ter a oportunidade
de reviver todos aqueles momentos bons por alguma fração de segundo que seja. Porque
a lembrança, não importa o quanto você lute contra ou desvie o pensamento
quando ela surgir, sempre estará ali, guardada em algum cantinho, até que algo
a faça despertar. O amor não é eterno. Você segue a vida, conhece novas pessoas
e pouco a pouco vai se desfazendo dessa grande concentração de sentimentos
dedicados a alguém. Mas a lembrança se torna parte de você. Uma parte
essencial, aliás. Essencial para seu crescimento, para a construção do seu eu.
A lembrança, essa sim, será sua companheira até o último dia. Para algumas
pessoas é mais fácil se acostumar e conviver com ela, para outras, não. Mas eu
aproveito para te contar que foi graças a ela que eu entendi a diferença entre
amar você e amar as memórias que você deixou. Eu amo cada minuto que passei ao
seu lado. Amo sentir o quanto aproveitei cada um deles e saber que pude me
entregar e ser eu mesma. Amo a música que chamávamos de nossa, amo até mesmo os
planos que fizemos e nem sequer concretizamos. Mas não amo mais você. Não tem
mais espaço dentro de mim para ser ocupado com tantos vazios, com algo que a
muito tempo deixou de existir. Levo comigo, portanto, a sua lembrança. É essa
que sempre terá seu espaço garantido aqui dentro e nunca será substituída pela
de outra pessoa.
Afinal, a única e mais importante marca que alguém pode
deixar em nossa vida, é cada pequena lembrança que levaremos dela. E por fim
concluo que nós não somos nada além de um acúmulo constante de lembranças, e
quanto mais o tempo passa, mais precisamos nos acostumar com essa ideia. O amor
não é eterno. É cada pedacinho que ele deixa pra trás quando vai embora, que dá
sentido ao tal de para sempre que tantas pessoas buscam tão desesperadamente sem
nem saber o que significa.
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